Quando escrevo, sou preenchida por um prazer que, por vezes, não é compreendido pelo meu racional, pois, nesta excitação, torno-me outro. Alguém que não sei, que não sou. Por isso, sempre é difícil responder o motivo pelo qual escrevo. Por prazer? Sim, eu responderia. Entretanto, há algo que antecede o prazer: a necessidade de costurar a vida com a ponta de um lápis e com as linhas das palavras. Mas qual seria a palavra exata, aquela que explicaria essa necessidade? Amor? Ódio? Questionamento? Inadequação?
Foi assistindo uma entrevista de Eduardo Antônio Bonzatto, historiador e professor, que rompe com os paradigmas da educação sem animus, que escutei a palavra certa: AFETO.
Escrevo para estabelecer relações de afeto com o outro, comigo e com a vida.
E, como ele, não limito o afeto à amorosidade, mas a uma maneira de afetar, e de ser afetada, a fim de enxergar além do óbvio e de me constituir, dia após dia, para além do que sou.
Como escrever uma vida de 40 anos no máximo em duas páginas quando se tem tantas paixões na vida? Terei que ser mais direta do que normalmente sou. Abdicarei um pouco, apenas um pouco, da sensibilidade enorme que possuo.
Na cozinha e no ateliê, trabalhando como confeiteira e educadora, ganho dinheiro com prazer. Da escrita, ainda só o prazer, mas isso já me estimula, me aquece. Entre paixões e prazeres, sou muito feliz!
Agora, com os filhos maiores, mais estruturada financeiramente, posso dedicar-me exclusivamente à escrita. E é isso que irei fazer.
Evidentemente, para ser uma boa escritora, é necessário esforço, paciência, humildade, talento, mas, sobretudo, pessoas que nos oriente no caminho. Afinal, hoje, qualquer um pode publicar um livro, mas eu quero e exijo de mim, qualidade literária. E pretendo que esse espaço seja mais um passo para meus propósitos.